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Diz um texto que circula na Internet há
muito... A Vida Ensina... O que não deixa de ser uma grande verdade, mas por
vezes essa verdade machuca, faz doer, faz chorar lágrimas que não se quer de
forma alguma. Informados que fomos a algum tempo de que algumas pessoas estavam
constituindo um grupo um pouco diferente de outros, mas com a intenção de
mostrar que Amor, União, Fraternidade e Solidariedade podem e devem de andar
juntos, fomos à procura da pessoa que desde 2004 acalentava esse desejo de
formar um grupo diferente, um grupo que reuniria e reúne mães que tiveram uma
dura experiência, a da perda de um filho. Elenita Passos recebeu nossa
reportagem e nos respondeu a alguns questionamentos, com muita tranquilidade,
que com o passar dos minutos vimos ser sua marca o que nos deixou bem a vontade
de fazermos as perguntas.
FP – Elenita conta para nossos leitores o que
te levou a formar um grupo de mães que perderam filhos de alguma forma, por
doença, acidente, crime (assassinato)?
Elenita - Amaral, eu em 17 de julho
de 2004 tive meu filho tirado de mim brutalmente, ele foi assassinado, então
passado esse episódio comecei a acalentar uma ideia, naturalmente pensando em
outras mães que estavam na mesma situação que a minha, como levar uma palavra
amiga, como nos fazer reunir para trocarmos experiências, colocarmos pra fora
nossa tristeza, e também lembrar os momentos felizes que tivemos com aqueles que
partiram nos deixando a ausência da presença e a presença da ausência em nós,
que chamamos de saudade? E isso não foi assim rápido, levou algum tempo para
amadurecer.
FP – Tu queres nos dizer que precisou amadurecer essa ideia,
tiveste que, digamos, te preparar para o momento oportuno, que quando chegasse a
hora iria acontecer?
Elenita – É... Na verdade parece que algo nos leva pra
esse caminho de amadurecimento como pessoa, nos tornando melhor no entendimento
de tudo o que acontece com uma mãe que tem essa, não sei te definir, mas digamos
desagradável experiência. Uma mãe que passa por isso jamais será a mesma pessoa,
passamos a ver as mesmas coisas que víamos antes, mas de uma forma diferente. A
dor da perda de um filho é uma dor que podemos dizer pior, principalmente porque
a nosso ver contraria a nossa natureza de que os pais normalmente partem antes
dos filhos. E isso nos torna muito frágeis no entendimento dessa questão que é o
mistério que nos cerca a respeito da vida.
FP – Então quando foi que o
grupo se formou de fato?
Elenita – O grupo teve seu inicio no ano que passou
no dia 09 de Julho de 2011, depois que fizemos alguns convites e enviamos alguns
e-mails tipo cartaz a alguns amigos e uma boa parcela repassou a outros e alguns
outros divulgaram em igrejas, casas espiritas e também naquele contato pessoal,
pessoas que sabiam que alguém havia tido esse fato na família, recebi, recebemos
um belo apoio o que nos fortaleceu e muito.
FP – Algum outro fato marcou
esse inicio de atividades?
Elenita – Olha, podemos dizer que sim, em
fevereiro de 2011 um acidente ceifou do convívio da família de uma amiga, a
filha desta, Dilene Pietro, que me ajudou a concretizar a formação do grupo.
FP – Onde se reúne o grupo? Tem algum vinculo com algum grupo religioso?
Elenita – O grupo se reúne no primeiro e no terceiro sábado de cada mês as
9,00 horas no Centro Espirita Nosso Lar, que fica ali na rua Vigário Jobim,
embora nos reunamos em um Centro Espirita nada tem em haver com religião, apenas
nos cedem o espaço gentilmente, não é um grupo religioso, nosso grupo é de
solidariedade, de apoio de uma para com as outras, quando nos encontramos nossa
saudação é um abraço de coração com coração, onde se passa o melhor que temos em
nós. Depois fazemos uma oração pois somos todas cristãs, sempre pedindo proteção
a nós aos nossos amores que partiram.
FP – E os pais, homens, podem
participar do grupo?
Elenita – Uma boa pergunta Amaral, mas é claro que pode
e sentimos que deve de participar, a ideia inicial era de mães... Mas basta que
o nome agora é Grupo Mãos Dadas, pois a simbologia de significado é de ajuda, de
carinho, de afago que mãos proporcionam.
PF – Além de toda essa gama de
conhecimentos em troca constante o que mais esse grupo tem e como pode ser
possível realizar um voluntariado nessa questão de ajuda?
Elenita –
Novamente uma boa pergunta, que respondo com muita felicidade, conseguimos entre
nós mesmas roupas, calçados, e outras variedades, realizamos feiras e vendemos
tudo a preços módicos, a partir de R$ 0,50 a unidade das roupas, calçados e
assim por diante, com o dinheiro arrecadado compramos alimentos, e nos dirigimos
a algumas vilas já escolhidas em nossas reuniões e entregamos para famílias
necessitadas. Como já falamos e voltamos a frisar, o grupo é aberto a pessoas
que tiveram essa triste e dolorosa experiência, não importa a religião, sua
condição social, sua raça, o que nos interessa é que queira ser solidária, ser
amiga, ser aprendiz, ser companheira, e que goste de gente.
FP – O Grupo
Mãos Dadas recebe auxilio de algum profissional em psicologia e assistência
social?
Elenita – Sim recebemos voluntariado de uma psicóloga Elenice
Pazzetto e na área de assistência social de Margarete Vaz, ambas nos ensinam
muito nessa questão que mexe com o nosso psicológico, com a nossa cabeça como se
diz comumente. Nós como grupo que somos, só temos de agradecer por esta ajuda
que essas profissionais nos dão, é muito agradável tê-las junto de nós.
FP – Elenita para finalizar gostaria de deixar alguma mensagem, algum
agradecimento a alguém?
Elenita – Amaral, o que dizer em um momento desses,
só agradecer ao Portal Fronteira da Paz, seu criador senhor Julio Reinecken,
Direção e Equipe de Reportagem pela oportunidade de contar algo de nosso Grupo,
de falar sobre perda de entes queridos, de entendimento de alguma maneira dessa
situação que nos é muito complicada, mas este é um dos segredos da vida, para a
vida. Seremos sempre gratos como grupo por esta oportunidade. E estaremos sempre
aqui para ajudar alguém na situação que nos é peculiar. Obrigada mais uma vez.
Ao finalizarmos a reportagem com a Elenita ficou em nós, impresso, a
vontade dessa mulher de querer ser solidária com outras mulheres que como ela
tem em si a marca de saber o que acontece uma com a outra, a marca da mulher
guerreira que junto com suas companheiras enfrenta o desafio de fortalecer a fé,
de acreditar que é possível de mãos dadas se ter união, de ser fraterna, de ser
solidária, de que juntas é possível um mundo melhor, de se fazer a caminhada
evolutiva mais suave e de tornar o AMOR palpável na vida de cada uma e ainda
poder distribuir aos menos favorecidos, e assim nos fazendo lembrar de que isso
é na verdade fazer Caridade, é distribuir o maior sentimento que está em nós.